Isabel do
Carmo tinha nascido na província. Filha de lavradores abastados um dia por
imposição dos pais acabou por casar com um regente agrícola também de bastantes
posses. Isabel foi educada no regime fascista e como seria normal na época,
bastante temente a Deus, Tanto na escola como na igreja que frequentava os seus
horizontes de vida não passavam dos conceitos cristãos existentes na época.
Um dia o
marido fez-se sócio de uma empresa dedicada à agricultura e vieram morar para
Lisboa.
Vieram para
um condomínio fechado onde todos os seus habitantes também eram pessoas bem na
vida e mais ligados aos negócios que à Igreja onde ela tinha sido criada ou
seja: Pessoas de mentes mais abertas.
Por força
das circunstâncias começaram a conviver com os outros condóminos. Até davam
festas num salão existente para o eleito naquele condomínio. Quando de bom
tempo também se juntavam na piscina comum, até que por natural da vida as
mulheres foram tendo os seus filhotes. Inclusive a nossa amiga por força do
destino teve um filho no mesmo dia e na mesma clinica que a Helena que habitava
a vivenda mesmo ao lado.
Durante
vários anos aquilo foi uma festa e as criancinhas foram crescendo e como seria
natural quase como irmãos. Até entraram no mesmo infantário e mais tarde na
mesma escola, não passando um sem o outro.
Anos depois
O Pedro e o
João eram como o ”O Roque e o amigo” Estudavam ora em casa de um ora em casa do
outro. Em dias de piscina lá estavam eles dando espectáculo nos seus saltos
acrobáticos para delícia dos seus progenitores e vizinhos com quem se davam.
Com prévia
autorização dos pais lá começaram a sair há noite sem ninguém se preocupar para
onde iam.
Só D. Isabel
de vez em quando, perguntava se eles ainda não tinham arranjado namoradas às
quais eles respondiam que ainda era cedo para isso, Primeiro queriam curtir a
vida.
O tempo e os
anos foram passando até que atingiram os dezoito anos. Ambos os casais fizeram
uma grande festa e então sim naquele dia de verão lá apareceram muitos colegas
Rapazes e raparigas e todo o mundo curtiu a piscina. Alguns quase em pelota,
fazendo uma “Rave” com Dj e tudo. D. Isabel nunca tinha visto tal e tanto
desaforo, principalmente das raparigas que só em bikini se atiravam à água.
Tratando dos
comes e bebes D. Isabel e D Helena na cozinha iam-se queixando da falta de
namoradas dos seus filhotes. D. Izabel até comentava já andar a preparar o
enxoval para o seu mais que tudo, enquanto os papás se entretinham no churrasco
e olhando de soslaio para as raparigas, lembrando-se como era no seu tempo e
comparando com suas mulheres que também já tinham sido assim, só que com mais
recato e roupa.
Chegou quase
a fim da festa quando os papás mandaram juntar todo o pessoal para dar a boa
nova, ou seja, as prendas para os rapazes. Ouviu-se grandes buzinadelas de
carros na rua e todo o mundo foi ver o que se passava.
Eram as
pendas que chegavam. Nada mais nada menos que dois carros iguais.
Os pais dos
rapazes então depois de uma prelecção adequada à ocasião entregaram-lhes as
respectivas chaves e um envelope a cada um onde por fora dizia “Para a Carta de
Condução”
A alegria
esfusiante de todos seguidos de palmas e beijinhos aos progenitores e depois de
irem ver as “Bombas” voltaram aos saltos na piscina.
As
acrobacias não paravam, principalmente dos nossos rapazes.
De repente o
Carlos mais afoito subiu ao último lance e com uma pirueta lá se atirou.
Calhou-lhe mal o cálculo e foi bater com a cabeça no fundo da piscina. Ninguém
nutou o sucedido menos o João sempre atento ao que o amigo fazia e notando que
algo de estranho se passava e não vendo o Pedro à tona, atirou-se à água e foi
buscar o amigo levando-o para a borda da piscina.
Foi quando
todo o mundo nutou que algo de estranho se passava fazendo uma roda à volta dos
mesmos.
Pedro soltou
alguma água que tinha bebido e João muito aflito, beijo-o longamente na boca
comentando logo a seguir:
- Epá!
Pregaste-me um susto dos diabos. Não voltes a fazer esta brincadeira.
Enquanto
todo o mundo batia palmas os pais dos rapazes aproximaram-se para ver o que
tinha acontecido mas só chegaram na parte final ou seja, no memento em que o
Carlos era beijado pelo João. Ficaram tão confusos com a situação que até D.
Isabel, muito atreita a cheliques, julgando ser outra coisa, acabou por
desmaiar, passando a ser ela a socorrida.
Entretanto
ao que parece o Pedro gostou do beijo do João e segurou-lhe na cabeça sendo
desta vez ela a beijar o amigo.
Esta cena
criou uma perplexidade estranha entre todos de tal forma que em uníssono com as
palmas ouviu-se um borborinho Ahhhhhhhhhhh.
Depois de todos recompostos com o sucedido
praticamente acabou a festa.
D. Isabel
acompanhada pela amiga recolheu-se aos seus aposentos.
Os colegas
dos rapazes enquanto se preparavam para se irem embora ouviam-se em surdina,
alguns comentários.
As raparigas
comentavam que eles eram mal empregados para seres gays e os rapazes, a sorte
que eles tinham em terem pais ricos e lhes terem oferecido os carros.
Depois
daquela cena D. Isabel em conivência com a vizinha começou junta da direcção da
escola onde os rapazes andavam a tentar saber os nomes e moradas das mães das
raparigas, colegas dos filhos, com a finalidade de marcar reuniões e chás
canasta em casa de Isabel. Resultado: Passados algum tempo essas reuniões
começaram sendo o intuito primário a realização de festas com colegas dos
rapazes sendo a maioria dos convidados, raparigas.
Isabel que
tinha sido casada por imposição dos pais, queria fazer o mesmo para seu filho
arranjando-lhe namoradas pressionando-o constantemente que queria ver a casa
cheia de netos.
Isabel não
se conformava com os tempos de mudança que se estavam a passar na juventude
actual.
Os jovens de
hoje não são os mesmos de há quarenta anos. Têm as suas próprias opções quanto
ao casamento.
Os tempos
foram-se passando e com tantas pressões, os rapazes lá foram arranjando as suas
namoradas, mas sem quando se tratava de viagens de recreio de noitadas ou
viagens de estudo andarem sempre juntos.
Já tinham
carta de condução e embora cada um ter o seu carro, raramente viajavam cada um
com o seu. Normalmente faziam-se conduzir num ou noutro
Chagaram as
férias e os nossos rapazes para fugirem a todas aquelas pressões resolveram ir
passar quinze dias ao Algarve. Quem tratou do hotel foi o Pedro e na véspera da
partida foram curtir a noite para o Bairro Alto.
Quando
Isabel foi tratar do quarto do filho tratando-lhe das malas, despertando-lhe a
curiosidade foi abrir-lhe a pasta do filho onde encontrou o Voucher do Hotel e
achou estranho no documento constar a marcação somente de um quarto. Telefonou
para a amiga Helena a perguntar se sabia qual o Hotel onde o filho iria ficar
no Algarve e ele confirmou ser o mesmo do Pedro.
- Mas eu
estou a ver aqui o Voucher e só está marcado um quarto.
- Amiga!..
Mas isso é normal. Já quando vamos todos eles ficam sempre no mesmo quarto.
- E acha
isso normal? Dois homens ficarem no mesmo quarto?
- E porque
não? Primeiro são amigos desde que nasceram, segundo a relação entre o meu
filho e o seu, cá em casa nunca nos preocupou.
- Desculpe
lá!... Mas relação? Que quer dizer com isso?
- Lembra-se
quando foi o aniversário deles e a queda do Pedro na piscina e o beijo que eles
deram?
- Sim!...
Lembro-me perfeitamente.
- E você não
desconfiou de nada?
- Mas
desconfiar de quê?
- Desculpe
amiga, mas você das duas, uma. Ou anda atrasada no tempo ou não quer ver o que
está mesmo debaixo no nariz.
Isabel, se
naquele dia tinha desmaiado? Naquele momento simplesmente desligou o telefone.
Aquele seu desejo de encher a casa de netos tinha acabado.
Naquela
noite depois de contar ao marido o que tinha descoberto nunca mais conseguiu
dormir e ainda mais depois do marido ter comentado o facto:
- Deixa lá
os rapazes. Desde que não andem para ai a dar nas vistas e sejam felizes é lá
com eles e também pode ser que seja uma faze passageira e que um dia sigam
outro rumo.
- Quer dizer
que tu já sabias?....
- Saber não
sabia. Mas também não sou parvo. E com a desculpa de estudarem à noite em casa
de um ou do outro e acabarem por adormecer nos seus quartos. Ó mulher!.. Não me
digas que nunca desconfiaste?
Isabel perante a atitude do marido não
conseguiu dormir mesmo e foi para a sala a fim de ver quando o seu mais que
tudo chegava, mas teve azar. O Rapas quando entrou já vinha com o pequeno-
almoço tomado e com o amigo. Só vinha buscar as malas.
- Então tu
não me vais dar netos!... É isso? E tu? João vais na mesma!...
Os rapazes
olharam um para o outro e só comentaram:
- Estamos
lixados!... Já fomos descobertos.
Sem mais qualquer
comentário de ambas as partes, subiram para o quarto e rapidamente desceram com
as malas que faltavam. Ambos deram um beijo na Isabel que ficou como
petrificada no meio da sala.
- Isto não
vai ficar assim!... – Comentou Isabel
enquanto os rapazes saiam porta fora.
Nelson Camacho D’Magoito
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